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quarta-feira, janeiro 28, 2004

Feher

Disse a mim própria, não entres por aí, mas não consigo... Bolas! Não sou insensível. Não gosto nem desgosto de futebol, é-me indiferente.
Aquilo de que desgosto é do país em que nos estamos a transformar. Já não bastava os casos Cruzes, agora também entrevistamos velhinhas às portas dos estádios de futebol que choram copiosamente por quem nunca antes tinham visto. Não estaremos nós a banalizar um pouco demais os sentimentos?
O que levará ao estádio numa noite chuvosa as senhoras de setenta anos, bigode mal aparado e lenço à cabeça e no que pensarão elas ao serem entrevistadas por um qualquer imberbe da TVI ou equivalente?

Já há uns anos atrás me tinha feito essa mesma pergunta, mas nessa altura a personagem era a princesa Diana. Dei por mim a chorar por alguém que nunca conheci e perguntei-me se faria algum sentido. Desculpei-me. Era boa pessoa, simpática, ou empática talvez. Vi-a tantas vezes na televisão que já lhe conhecia a raça, em jeito de telenovela. Mas diga-se a bem da verdade que não fui a Paris, não fui a Londres e não teria ido sequer à praça de Londres.
Suponho que não haja um stock limitado de dor, assim como não há stock limitado de amor. Mas também não andamos para aí a distribuir indiscriminadamente o nosso amor pelo resto do maranhal.
Se amar toda a gente não amarei ninguém verdadeiramente. Aceite este pressuposto, parece-me óbvio que, se chorar por todos nenhum terá sido nunca verdadeiramente sentido e homenageado.
Quero fazer dos meus próximos a minha elite. É só isso que tenho para lhes oferecer.
Somos todos crescidinhos, a morte acontece e é sempre triste. Mas talvez fosse melhor que não nos transformassemos num país de carpideiras em troca de uns segundos de ribalta na caixinha mágica.
Somos uma raça esquisita!
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