<$BlogRSDURL$>

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

Por enquanto... 

Lá estavamos todos, uns mais felizes que outros, muito juntinhos, em competição por um lugar na fila da direita. Todos tínhamos o mesmo objectivo, todos fugíamos ao amontoado de carros que aumentava cada vez mais à nossa frente. Mudei a estação do rádio. Calmamente... não tenho pressa. Isso mesmo, Rádio Comercial. Vamos ouvir uma fantástica malha para animar.

Não, não tive sorte. Começo a ouvir a apresentação de um jogo com certeza cretino que dá pelo nome de "A bomba". Aos interessados, consiste em mandar parar um palerma que faz uma contagem crescente de números que mais tarde percebi que correspondiam a quantias em dinheiro. Temos então uma guerra em directo entre o conservadorismo de ter um pássaro na mão e a ganância do querer sempre mais. O palerma parou.

A menina perdeu, desta vez a ganância deu maus resultados.
Mas não me incomodam programas radiofónicos imbecis, ainda que possam espelhar qualquer coisa de estranho sobre a nossa sociedade.

Aquilo que me incomodou foi a forma como a nossa menina, a Sónia, se apresentou. Pergunta o locutor:

"Então bom dia Sónia. Antes de jogar "A bomba" conte-nos lá o que faz?"

e diz a Sónia:

"Bom, sou professora ...(poucos segundos depois e diminuindo o volume da voz) ... por enquanto - ou qualquer outra interjeição equivalente em tom depreciativo"

O locutor, não sei se incrédulo ou só como resultado da diminuição do volume pergunta:

"Desculpe, é professora de quê?"

ao que ela responde a contragosto:

" Do primeiro ciclo"

DO PRIMEIRO CICLO!
Ainda por cima. Espero que esta nossa amiga não seja representativa da sua espécie... os professores de primeiro ciclo. São comentários como este que arrasam comigo. Estes e a constante e incessante necessidade de repetição que nós, adultos responsáveis, temos de dizer às nossas criancinhas que a matemática é um papão, muito muito difícil. Como que a desculpar o nosso próprio falhanço. Com este espírito, como é que alguém pode esperar que as notas a esta tão nobre disciplina possam ser superiores a um qualquer mediocre número de 1 dígito.

Mas voltemos ao que aqui me trouxe. Já sabia que à vontade 80% dos portuguesinhos, esse povo tão simpático, estava descontente com o seu trabalho (porque já não tenho coragem de lhe chamar profissão). Eu própria dei por mim ontem a ficar completamente atordoada quando me perguntaram o que fazia. É tão banal! Sou tão banal! Quase inventei uma qualquer profissão muito entusiasmante que me fizesse brilhar. Contive-me. Balbuciei... tretas!.

Mas isso não justifica a nossa professorinha. Se há profissões que têm que ser quase que um acto de fé, esta é com certeza uma delas. Não podemos ensinar as nossas criancinhas enquanto não aparece nada melhor. É por estas e por outras que elas também só vão aprendendo enquanto não aparece nada melhor.

Vamos ouvindo a Comercial e as Sónias desta vida enquanto nãoi aparece nada melhor!
Comments: Enviar um comentário
">postCount('<$BlogItemNumber$>');

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Weblog Commenting by HaloScan.com